terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Conflito

A uma alma calma
Clama um amor aflito
Fito a cama
Que na dor reclama
Feito chama
Em meu infinito

Conflito que deixou seqüelas
Apesar disso me consola
Beijar sua camisola
Mesmo não estando nela

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Amo-te porque te amo

Éramos ainda criança, quando nos conhecemos. Nos comunicávamos mais por imagens do que com palavras e quando o fazíamos, éramos exageradamente monossilábicos e redundantes. Tropeçávamos nas palavras.


Mas nada disso nos impedia de nos conhecermos, de nos apaixonarmos. Pelo contrário, a cada dia mais e mais te amava. Nossa relação crescia a cada dia, a cada minuto, a cada segundo. Cheguei até a usá-la em meus versos, em meus segredos, em minhas angústias.

Foi quando meu pai me disse, de maneira inesperada, ao chegar em casa, que eu deveria flertar com outras e que isso seria bom para mim, que já era um rapaz e que certamente as pessoas me cobrariam por isso. Chegou ao absurdo de dizer-me que quanto mais eu me relacionasse com outras, mais intensa seria a minha relação com aquela a quem amava.

Mesmo não querendo acreditar no que ouvia, decidi seguir seu conselho. Flertei com algumas, mas nunca as tive em meus versos, como a tenho.

Quero dizer-te que ainda a amo, que sempre a amarei e mesmo que às vezes eu não consiga entendê-la plenamente, te possuirei. Em meus versos, em minha língua, em minha fala.

Amo-te por que te amo.

Desde o meu prefácio...

Do Lácio ao Estácio.


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As palavras são minhas amigas

As palavras são minhas amigas
Perto delas fico Zen
Vez por outra a gente briga
Mas depois troca de bem

Certa noite, uma enxaqueca
Maltratou minha retina
De tanto que eu sofria
Por uma tal de Cristina

Me deitei no sofanete
Bem ao lado da piscina
E eis quem me aparece?
As letrinhas de Cristina

E ficaram ali dançando
Parecendo bailarinas
Mas ainda a enxaqueca
Por causa da tal Cristina

De repente a letra “o”
Despencou sobre a Cristina
E entre o “cê” grandão e o “erre”
Transformou-se em Coristina

Uma coisa eu aprendi
Com as letrinhas bailarinas:
Coristina cura tudo
Menos a dor de amar Cristina.




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O Sol da meia-noite

As luzes da cidade
Já se apagaram.
Da janela do meu observatório
Já posso ouvir
O silêncio ensurdecedor da noite.

Mas não existem mistérios na noite
(o mistério está na escuridão dos homens)
Porque a noite é simplesmente
O amanhecer das estrelas


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O garoto e a pipa

Rabiola rebolando,
Entre pássaros metálicos,
Num mergulho acrobático
A pipa era um menino
E o céu um quintal.

O garoto empinava a pipa
Vestida de todas as cores,
Vestido de todos os sonhos.

A pipa e o garoto
Eram dois extremos
De um mesmo desejo.

Ora o garoto de todos os sonhos
Empinava a pipa de todas as cores,
Ora a pipa de todas as cores
Empinava o garoto de todos os sonhos.

Os dois planejavam,
Sem que a noite percebesse,
Roubar uma estrela
E guardá-la, vejam só,
Atrás do pé-de-manga.


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Porão da minha consciência

Quando abri a porta do porão da minha consciência, um bando de pássaros do medo sobrevoou minha cabeça e depois sumiu. A escuridão era tanta, que o Sol resolveu esperar-me do lado de fora.


Trêmulo e ofegante, como em meu primeiro beijo, acendi a lâmpada e, para meu espanto, não encontrei nada que fosse realmente meu.

Verdades alugadas de pessoas que eu nem mesmo conhecia, conselhos de família cobertos por teias de aranha, em cima da escrivaninha.

Na gaveta panfletos, uma foto da primeira comunhão e um salmo bíblico. Muni-me então de vassoura e desinfetante e iniciei uma faxina definitiva.

Atrás do velho sofá, onde às vezes me escondia do mundo, encontrei um poema. Era meu primeiro poema, minha primeira verdade. Algo realmente meu.

Fechei a porta e, propositalmente, deixei a luz acesa. Para sempre.



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Noite suja

Agora sou rei,
Dono de toda verdade,
Nesta noite suja.

Meu país?
Fica na esquina da Brasil com a Paulista:
Pungente, pingente, punguista.
Indigente na sel-va-ge-ri-a-tri-a.

Sou rosto e resto
De consoláveis botequins.
O profeta da rua amarga.

...Mas pela manhã, o Sol bate à minha porta
Apenas para lembrar-me
Que continuo sendo o mesmo idiota
De ontem à noite.


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Não guarde sua lágrima para amanhã


Quando a acidez da dor
Cortar tua carne
E torturar teu ser
Até te ver morto,
Não sejas estúpido,
Chore...!
Pois a lágrima
É o antídoto do sofrer.

Não guarde sua lágrima para amanhã.
Quando a miséria
De tudo o que há
E a injustiça
Ajoelhar-se
A seus pés
Não sejas covarde
Chore...!
Que o pranto
É a espada da indignação.

Quando a saudade
Bater forte,
Quando o desejo de voltar
For mais intenso
Que a vontade de prosseguir
Chore...!
Em verdade
O tempo não volta atrás
Mas faça da tua lágrima
O rio que deságua
No teu desejo.

Não guarde sua lágrima para amanhã
Quando a alegria transbordar
E na desesperada paixão
Implorar pela eternidade
Seja humano
Chore...!
E creia,
Os momentos são únicos
E as paixões não esperam.


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A simplicidade


A simplicidade é erudita
Bendita palavra perfeita
Que enche meus olhos de imagem
Tornando minha’lma refeita

A simplicidade é moderna
Eterna paixão da palavra
Palavra que amei cantando
Tornando-me dela escrava

A simplicidade é perfeita
Enfeita a palavra erudita
Trazendo imagens refeitas
Receita prá alma bendita

A simplicidade é um verso
No grande universo da escrita
Descrita de modo certo
Nos versos do repentista



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Prá espantar mau olhado


Quando cheguei a esta estrada
Ela não me prometeu nada
Nem me falou sobre atalhos
Sei, entretanto,
Que atrás de observadoras árvores
Forças do bem e do mal
Duelam entre si
Por minha tutela

Mas, se é para o bem do povo
Ou desespero geral – Danação!
Continuarei caminhando

“No meio do caminho tinha uma pedra”.

Sentei-me nela,
Enquanto declamava
O poema de Drummond.
Após breve pausa,
Levantei-me
E pus-me novamente a caminhar

Mais adiante encontraria,
Entocados entre as flores,
Seres tolos
Disfarçados de homens
Falando dos perigos da estrada,
Estrada que eles jamais ousaram pisar.



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Inesperada visita


...Eu estaria sozinho,
Bebendo alguma coisa
Na sala de estar
Quando ela bateria à porta.

Eu a abriria
E num breve momento
Pensaria em tanta coisa
Como quem aperta
A tecla rew do controle remoto.

Pediria a ela, suplicando,
Que voltasse mais tarde
Pois teria muita coisa a fazer
E ainda seria muito cedo.

Ela continuaria ali,
Com aquele vestido sinistro,
Com aquele olhar sinistro,
Tendo em mãos um mandado,
Também sinistro.

Eu perguntaria a ela
Porque não visitar outras pessoas
Que talvez estivessem
Implorando tal vista

Ela olharia para o relógio,
Franziria a testa
E estender-me-ia a mão,
Como quem dissesse
Que ainda teria
Outras visitas a fazer.

Eu então me renderia.
Olharia desesperadamente,
Pela última vez,
O violão, o retrato das crianças
E a máquina de escrever,
Ainda com papel


Perguntaria, absurdamente,
Àquela Senhora,
Se para onde iríamos
Teriam máquinas de escrever,
Violões e crianças.

Ela pegaria minha mão
E sorriria,
Mas eu não conseguiria saber
O que ela queria dizer
Com aquele sorriso.


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A farta flor


Uma farta flor
Desabrochou na ribanceira
À beira do rio suplício
Início de segunda-feira

A farta flor
Não tinha cor
Não tinha flor
Não tinha nada

A farta flor era o adeus da minha amada...



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De todos os amores

Amar a vida
Que o amor é urgente
Amar a natureza
Que o amor é natural
Amar a poesia
Que o amor é poema
Amar a canção
Que o amor é melodia
Amar a manhã
Que o amor é alvorada
Amar a noite
Que o amor é luar
Amar as crianças
Que o amor é menino
Amar a lágrima
Que o amor é orvalho
Amar a rosa
Que o amor é perfume
Amar a mulher
Que o amor é chama

Amar a pessoa
Qualquer pessoa
Inclusive Pessoa
Na primeira pessoa



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Aspirina, meu amor!

Eu não preciso de um teu beijo
Como se fosse aspirina
Amor não é patologia
Amar a ti é minha sina

A Marte ia se quisestes
Amar-te-ia lá também
Amar-te-ia em qualquer parte
Amar-te-ia até no além

Ao tê-la toda em meus braços
Eu tolo tenho a sensação
Que ao trazer-me os teus lábios
Queres negar-me o coração

O nosso amor não tem remédio
Que remedeie a minha dor
Meu coração é que se dane
Vem Aspirina, meu amor!


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Poesia de lugares (parte 1)


Ilha Grande

Ilha Grande
Filha de São Sebastião
Trago em minhas mãos
Pedaços do teu poema
Pena não poder abraçar-te
Mas guardá-la em meus versos
Talvez...

...Ilha Grande
...Ilha imensa

E daqui da balsa da irremediável partida,
Eu, errante navegante,
Te sonharei em meu regresso.



Conservatória

A praça, silenciosa e tímida,
Oferecia um sorriso ingênuo
A quem quisesse brincar com ela.

Na Rua das Flores
As flores da rua
Bailavam embaladas
Pela melodia do vento.

Conservatória conserva tudo
Observatória do tempo que passa
Doce e segura
Como um colo de mãe.

Na noite de mil estrelas
Canções e conversas de bar,
Serenatas de rua e beijos.

A lua de prata no quintal
Era testemunha ocular
De que tudo era real.



Bahia

Nos meus trinta e tal
Nunca me esqueci de você
Mãe Bahia
Meu remorso
Meu fim

Bahia...
Estado de resistência cultural
Do meu país
Sábia e única
Como os filhos teus

Já fostes primeira dama
Bahia de São Salvador
Bahia de todos os santos
Bahia de todos os cantos
Bahia de toda a cor

Trago um desejo inconfesso
De correr mundo afora
E morrer na Bahia.



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Vá entender Pessoa!

Entrará como vinho
Suavemente...
Permeará tua alma
Mansamente...
Navegará em teu sangue
Tuas veias...

Instalar-se-á em teu cérebro
Em tuas convicções
Em tuas verdades
Em tua arrogância
Em tua pequenez
Em tuas contradições
Em tua hipocrisia.

Percorrerá teu pulmão
Teu coração
Teu baço
Tuas vísceras.

E quando estiveres
Completamente dominado
Ele implodirá tudo:
Tuas vísceras
Teu baço
Teu fígado
Teu coração
Teu pulmão
Tua hipocrisia
Tuas contradições
Tua pequenez
Tua arrogância
Tuas verdades
Tuas convicções
Teu cérebro
Tuas veias
Tua alma.

Vomitarás a ti mesmo
Até que não haja
Vestígio de nada
Daquilo que fostes um dia
Até te sentires
Absolutamente nada.

E então, já sendo tudo
Pois que já não és nada
Ele sairá
Suavemente...
Como vinho.

Pensou que entendeu Pessoa?
Você que pensa!


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Roubaram os óculos de Drummond

Roubaram os óculos de Drummond
Pura falta de visão
Conhecessem, ao menos, a vítima
Não fariam isso, não.

Coitado desse ladrão
Que, em sua miopia,
Ao cometer tal heresia
Não medisse a sua ação

Se ele lesse poesia
Que amplia a visão
Certamente não faria
Essa coisa com Drummond

Se os óculos ele desse
Ao ministro da educação
Até talvez se redimisse
Desse ato trapalhão

Mas não culpo esse sujeito
E o seu jeito atrapalhado
O que eu fico indignado
É com os rumos da educação

Espero estar vivo um dia
Para ler a poesia
Quem sabe, desse ladrão
E assim feliz eu partiria
Ao encontro de Drummond.